quinta-feira, 17 de maio de 2018

A enorme tragédia que é gostar de alguém

Primeiramente, se você caiu de paraquedas nesse blog e tá achando que isso aqui é algum tipo de texto romântico que contém alguma frase em potencial pra você postar nas suas redes sociais pra você pagar de apaixonado(a) poeta, SUMA DAQUI. Na boa. Vai CAGÁR. Aqui é só raiva, ressentimento, arrependimento, pesar, baixa autoestima, entre outros sentimentos ruins.

Mais um ano de vida se aproxima e, como sempre, eu não amadureço. Sou o mesmo menino de treze anos que ouve Iron Maiden o dia inteiro e se arrepia com o riff de Flight of Icarus. Que chora assistindo Yu Yu Hakusho. A MESMÍSSIMA PESSOA. A idade está chegando; as ressacas já estão cobrando com juros muito mais altos que antes; as coisas divertidas de outrora já viraram dolorosas obrigações. Mas não aquelas obrigações como ir para o trabalho (essas são explicitamente chatas). Me refiro a obrigações ainda mais cruéis. Coisas que eu amava fazer e que, atualmente, eu tento fazer no meu raríssimo tempo livre (em que não estou sendo explorado como um burro de carga) mas, ao tentar, acabo percebendo que não suporto mais fazê-las. Resumindo: nem o que teoricamente eu gosto de fazer, eu gosto de fazer. Até o que me sempre me agradou, hoje me causa agonia.

Pouquíssimas coisas ainda me causam uma sensação de contentamento. Há poucas semanas, em função do trabalho, tive que ir a um clube que costumava frequentar na minha infância e adolescência. Dos meus sete aos meus dezesseis anos, aquele clube me trouxe muitos momentos felizes, pelos quais sinto uma forte nostalgia. Ao retornar à esse lugar (quase dez anos depois, a trabalho), me senti muito mal. O chão, as piscinas, o cheiro... tudo me lembrava aquela época em que fui muito feliz sem saber. Nesse tempo, o simples fato de entrar na quadra antes de começar a jogar futebol já me causava uma euforia filha da puta. Uma felicidade que chegava a ser agoniante. Saber que eu estava prestes a jogar horas e horas seguidas de futebol com meus amigos era algo que me animava muito. Hoje o que restam são só isso: memórias entristecedoras. Nada mais é capaz de causar essa euforia. Drogas chegam perto, mas não alcançam nem 10% do que eu sentia na época.

Entre as pouquíssimas coisas que ainda me deixam feliz, estão o álcool, o cigarro e, em POUCOS casos, sexo (com mulheres, que fique bem claro para BAITOLAS de plantão).

Todas essas coisas, no dia seguinte, são infernais. Me arrependo de todas quando acordo.

Acabo me envolvendo com mulheres (geralmente universitárias de 18 a 23 anos) de forma breve e superficial. É óbvio que não vou querer ter nada mais sério com essas imundas do mundo moderno, cujos cérebros só conseguem assimilar bizarrices como "SEU AMOR ME PEGOOOU" ou "VAI SENTAAAR, VAI SENTAAAAAAAAAR". Só servem como um alívio momentâneo, afinal, somos animais burros e presos à carne. Precisamos meter a rola de vez em quando.

Assim está sendo há muito tempo. Merdas acontecem e vez ou outra alguma acaba ficando apaixonada. Aí é uma merda pra lidar e me safar da situação. Nada que eu não consiga resolver com boas doses de falsidade e cinismo. Modéstia à parte, estou ficando bom no negócio. Mas recentemente algo me FUDEU completamente.

Comecei a ficar com uma mulher aí. Nada demais. Universitária, 20 e poucos anos, bonita e festeira. NADA DEMAIS. Uma pessoa normal. O combinado (que nunca foi combinado verbalmente, apenas de forma implícita) era sair, beber, ir pra casa (minha ou dela) e transar. Algo consideravelmente cansativo, mas que tinha seus pontos positivos (como por exemplo os cinco segundos de orgasmo). No outro dia, era cada um no seu canto. No máximo um "e aí, como tá a ressaca?" e TÁ ÓTIMO. Mais carinho que isso, vá caçar sua turma. Foda-se.

Um dia, as coisas foram longe demais. Como sempre, bebi pra caralho. Quando começo a ficar bêbado, meu cérebro começa a se sentir mais confortável com a existência e começa a gostar daquela situação. Automaticamente me sinto obrigado a beber mais pra prolongar esse raro momento de tranquilidade. Só que nesse dia, as coisas foram além da conta. Bebi PRA CARALHO. Não me lembro de muita coisa. Só sei que acordei na casa dessa mulher, na cama dela. Olho pro relógio e estou ATRASADÍSSIMO pro trabalho. Coisa de meia hora. Me desespero e, num pulo, saio da cama e começo a vestir a roupa do dia anterior pra ir trabalhar. Aos poucos percebo que tô mal pra caralho. Tenho sinusite e, às vezes, ela ataca com tudo. A mulher acorda lentamente. Explico a situação. Ela se oferece pra me dar carona. O pobretão aqui tem uma conta na poupança na qual deposita tudo que ganha pra SEI LÁ O QUE e não gasta com nada. Poderia ir a uma concessionária amanhã e sair de lá com um carro zero, mas não o faço porque seria BURRICE. Gastar dinheiro em vão pra agradar outras pessoas. Tô muito bem do jeito que tô, guardando tudo que ganho. Obviamente ela (nem ninguém) não sabe da existência dessa conta. Pro mundo (e pra garota), sou só um pobre que não tem carro e anda de Uber pra lá e pra cá.

Ao oferecer a carona, ela deu uma ideia: faltar no serviço e ir para o Pronto Atendimento da Unimed. Assim, eu me safava da bronca que levaria do chefe e, de quebra, trataria da minha sinusite que tava foda pra caralho. Humilhado (por ser levado de carro por uma mulher), aceitei. Ainda que o carro tenha sido um presente do pai dela (ou seja, fruto do trabalho de um homem), me senti diminuído. Uma mulher dirigir um carro enquanto um homem está no banco do carona é algo HUMILHANTE e ponto final. Foda-se quem discorda.

Eu esperava que ela fosse me deixar na porta da Unimed e fosse VAZAR. Dali pra frente eu me virava. Consulta com o médico, receita médica e um atestado generoso pra ficar um ou dois dias de molho, longe da iniciativa privada e do capitalismo que suga almas e acaba com a saúde de jovens recém-formados. De quebra, eu estava praticamente sem voz, o que já ajudava muito no teatro para convencer o médico de que eu era um pobrezinho.

Só que ela entrou no estacionamento do hospital com o carro e me acompanhou durante toda a merda. Desde a recepção, passando pela triagem, até a consulta. Algo que demorou em torno de meia hora. Aí que veio a merda.

Nessa altura do campeonato, já devia ter uns dois meses que a gente transava. Como já disse, eu não tinha intenção nenhuma de ter nada sério, ainda mais por ser uma menina universitária baladeira. Só que como TUDO DÁ ERRADO, eu percebi o quanto estava fudido nesse momento.

Eu estava na triagem (local em que uma enfermeira pergunta o que você está sentindo, mede sua pressão arterial, temperatura, e te dá mais ou menos um direcionamento pra qual médico vai te atender), e ela na recepção. Mais ou menos uns quinze metros de distância. Nesse momento, ela tava mexendo no celular e CAGANDO pra mim. Obviamente aquela era uma situação comum. Uma pessoa levando um idiota que perdeu a hora na Unimed pra ele conseguir um atestado e não ser demitido. Era como eu (e provavelmente ela) enxergava a situação até então. Aí que veio a merda. Quando eu olhei pra ela, sentada na recepção, mexendo no celular, com aquele puta cabelo comprido jogado no ombro, já planejando o resto do dia com as amigas (era o início de um fim de semana), eu levei uma porrada.

Veio aquele nó na garganta e eu me deparei com um sentimento horroroso. Me dei conta do quando gosto dela e quero ficar perto dela. Foi uma daquelas situações em que o tempo passa mais devagar. Tudo fica em câmera lenta. Ela ali, sentada, olhando pro celular... uma cena irretocável, como uma pintura. Os cabelos lisos, compridos, loiros, caídos sobre a pele branca. Algo inesquecível e terrivelmente belo. Cruelmente encantador. Dolorosamente viciante. Ficaria ali por dias olhando aquela cena, sem tirar nem pôr.

Só pra ficar claro: isso não tem NADA A VER COM ELA. Ela não tem nada de especial. O fato de eu ter começado a sentir algo é só fruto das minhas próprias frustrações e inseguranças a respeito de mulheres. Isso somado ao fato de eu ter uma mãe extremamente fria e autoritária, que não me deu muito carinho na infância. Provavelmente essa carência e insegurança acumuladas me fizeram desabar ao me deparar com uma mulher fazendo uma boa ação pra mim. Resumindo: eu me apaixonei pelos meus próprios medos e falhas. Ela foi só um meio pra eu chegar nessa paixão.

Obviamente ela não sabe disso. Ou por acaso você tá achando que eu sou alguma espécie de BICHA que sai por aí se declarando pros outros? Pelo amor de Deus. Você só pode estar de BRINCADEIRA COM A MINHA CARA. Não me faça atravessar a tela do computador e te dar porrada na sua própria casa, seu ESTRUME.

Nunca vou contar isso pra ela. O que ela espera de mim é exatamente o que eu deveria esperar dela. Noites cheias de álcool, que terminam em sexo. Manhãs distantes, em que eu acordo e sumo da frente dela. Dias e mais dias sem se falar, até que nos encontramos em algum bar novamente pra repetir a dose.

É foda. Mulher é algo diabólico. NUNCA SE ENVOLVAM COM MULHER NENHUMA. Essa é a dica que deixo aqui para a posteridade. Sei que é foda enxergar um problema quando você nunca passou por ele e apenas ouve outro cara falar dele. Mas tentem mentalizar o quanto isso é nocivo e saiam dessa enquanto há tempo. O encantamento que elas causam na gente é muito forte justamente porque não vem delas, e sim de nós mesmos. Nossos próprios sentimentos de pequenez acabam nos tornando um terreno fértil para paixões e outros sentimentos de CHORÕES NECESSITADOS. No fim, é tudo egoísmo e narcisismo. A pessoa pouco importa. O que importa (pro nosso inconsciente burro e vil) é estar pensando que alguém deveria nos estar dando carinho e amor o tempo todo. Isso vem traduzido em forma de paixão, e é colocado pelo nosso cérebro de uma forma em que a mulher é o centro de isso tudo. NÃO É. Ela é só um ser humano. Algo ilusório dentro da nossa cabeça nos faz acreditar que ela é a fonte de todo esse sentimento. NÃO É.

Não sou nenhum palhaço e já analisei toda a situação. Vou conseguir me safar dessa e sairei praticamente ileso. Algumas memórias ruins e arrependimentos pra vida toda, mas nada muito sério. Comparado com o que eu já sinto a respeito de mim mesmo, tá tranquilo. Vai ficar tudo bem (justamente porque vai ficar tudo mal no fim). Se no fim da vida tudo vai terminar mal (em morte e tristeza), nada que acontece em vida pode ser tão ruim.

Espero que esse sentimento saia de mim o mais rápido possível, pois é algo tenebroso e assustador de ser sentido.

Não se apaixonem.

Grande abraço.

12 comentários:

  1. Caralho Tiago, na metade do texto, meu deu um frio na espinha a cada descrição desse sentimento terrível. Me lembrei de algumas vezes que isso aconteceu comigo e só piorou a situção. Só de imaginar um cachorro velho experienciando isso, só poem mais em ênfase o quão animais nós somos. Tu escreve muito bem, bicho.

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  2. OXE!!!! E DAÍ,PORRA? PIOR SOU EU QUE SOU INCEL E NÃO COMO NINGUÉM. CHEGUEI AO CÚMULO DE VER PORNÔS DE TRAVECOS E GAYS DE TANTA CARÊNCIA E DESESPERO...
    PRA DORMIR DE CONCHINHA, NAMORARIA FACILMENTE ESSA VAGABUNDA E AINDA A DIVIDIRIA COM A GALERA.
    CUCKOLDISMO = FUTURO DOS HOMENS, ALFAS OU BETAS
    VC TÁ MUITO BEM NA FITA. RECLAMA POR NADA! A SUA VIDA É FÁCIL. PENSE NOS INCELS DEPRESSIVOS POR AÍ.
    ABRAÇO!

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    1. O dia que você sair do seu quarto fedendo a porra e ter o MÍNIMO de interação com as pessoas (ex: dar bom dia pro porteiro, pro atendente da padaria, pros seus PAIS), vai perceber que chegar numa mulher não é um bico de sete cabeças.

      Pára de chorar, cara! Essa merda de Incel não leva a nada!
      Pára de passar o dia inteiro "odiando" mulher( não real, os Incels são os que mais amam elas) e batendo punheta e segue um rumo. Se desenvolva e VIRA HOMEM, CARALHO!
      Que ABSURDO! COMPARTILHAR MULHER COM A GALERA? PORNO DE TRAVECO?
      Esse é o poder dos Incels. Virarem umas bichas.

      Se cuida!

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  3. Garotinho, no geral, foi um texto muito agradável de se ler. Porém, se me permite, gostaria de fazer uma ponderação:

    A. Você se repete muito. Por exemplo, na parte em que você descreve a sensação do amor te afligindo ao se deparar com a garota na sala de espera do Hospital. Você repete o "aí vem a merda" umas três vezes antes de nós mostrar qual seria a merda em si. Destruindo completamente aquele clima de tensão que se cria organicamente ao ler a frase pela primeira vez. Nem preciso dizer que isso é completamente dispensável para quem quer fazer textos de cunho satírico-gnóstico. Porém, como sei que ainda é amador neste ramo, consigo lhe perdoar e não deixar que isso estrague a conjuntura da obra.

    Abraços.

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    1. Haha tenho certeza que o cara que escreveu esse texto não se importa muito com regras de escrita e vc também não deveria

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Boa noite, Guilherme. Seu comentário foi removido pelo proprietário desse blog. Poderia repetir qual é a sua duvida?

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    1. O comentário foi removido pelo autor do comentário, mula.

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    2. E qual seria a diferença significativa que isso faria ao meu ponto inicial?

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