terça-feira, 13 de setembro de 2016

O fantasma que volta cada vez mais assustador.

Depois de meses, o total pavor de estar vivo está de volta. Começou hoje e já está insuportável. Não consigo fazer absolutamente nada. Tentei gravar hoje mas minha voz travou completamente e não saiu nada. Apertei o botão de gravar, fiquei olhando os segundos se passarem no programa que eu uso pra gravar, mas não deu. Se reparar bem, você percebe que só falamos quando uma ideia deixa de ser só uma ideia e leva um "empurrão" de um negócio chamado IMPULSO. Sabe quando você tá com algo em mente pra falar, e, quando menos espera, você já está falando? Isso acontece principalmente quando estamos muito putos de raiva ou muito felizes. Pois é, esse impulso que chega do nada e nos faz falar por horas sem perceber não chegou. Desliguei o computador e fui cochilar. Aliás, dormir é algo que eu faço muito nessas horas. Outra coisa que me ocorreu hoje (e nunca havia acontecido antes) foi uma tonteira absurda, como se eu tivesse labirintite ou algo assim. Uma merda tão forte que me incapacitou de andar e até de ficar com os olhos abertos, mas melhorou depois de alguns minutos. Ainda bem que eu tava em casa nessa hora.

Algo aqui dentro não está certo e de tempos em tempos esse algo se manifesta. Tô com aquele nó na garganta há horas. Não consegui treinar nem comer direito hoje e nem sei como consegui ir pra faculdade. É curioso ver o fundo do poço chegando justamente agora, visto que estou num momento (na cabeça de qualquer pessoa com nível de lucidez normal) bom da minha vida. Não darei detalhes para não me expor, mas tudo está no seu devido lugar (família, faculdade, vida amorosa, etc).

Creio que todos os leitores dessa porcaria aqui já entendem todo o conceito da falta de sentido em estar vivo. Não importam suas crenças, suas certezas, seus sonhos e esperanças, no fundo todos nós sabemos que por baixo desses panos tem uma coisa só: a certeza de que nascemos para vagarmos por um universo assustador, e no final morrermos sozinhos e insignificantes. E assim será com toda e qualquer forma de vida que pisar nesta estranha cadeia de acontecimentos movidos por reações químicas chamada VIDA. Acho que todos aqui conseguimos partir desse princípio.

Não é disso que eu estou falando aqui. Eu convivo com essa perspectiva de vida desde meus 14 anos. Olhar pro céu e não entender nada é algo comum pra mim. Olhar pra uma árvore e não entender qual é a razão daquilo existir, também. Olhar pra qualquer coisa e me perguntar porque raios algo existe é algo tão comum que consigo achar isso engraçado e me sentir tranquilo a respeito. A sensação de falta de sentido sempre está presente, mesmo quando eu tô me sentindo bem. Já aprendi a lidar com isso de forma racional.

Esse "algo" que emerge de dentro de mim e me faz ficar assim (geralmente a cada 3 ou 4 meses) não está diretamente relacionado com o fato de eu não enxergar sentido nas coisas. É algo diferente, milhares de vezes mais corrosivo do que apenas não entender o porquê de estar vivo. É como se eu deixasse de ser um ser humano. Na verdade, é como se eu fosse algo tão diferente (OPOSTO pra ser mais exato) de um ser humano, que estar vivendo num hóspede humano de carne e osso se torna nojento, repulsivo, aterrorizante. A sensação é de que preciso sair URGENTEMENTE. Me olhar no espelho quando estou nesse estado é uma das experiências mais sombrias que já experienciei.

Será que tenho capacidade de explicar essa merda? É a pergunta que me vem à cabeça, juntamente com a vontade de apagar tudo que já escrevi até agora. Vamos tentar, caralho.

Imagine um cara comum que representa a grande maioria das pessoas do planeta. O nome dele é Zé Burrão. Ele é um cara decente que vive a vida da melhor maneira possível. Fica feliz, fica triste, fica indignado, fica orgulhoso. Sempre reagindo (preste bastante atenção nessa palavra. REAGINDO. Como um rato de laboratório) a partir dos estímulos que recebe.

Imagine que cada ser humano enxerga a vida com um ZOOM diferente. ZÉ BURRÃO enxerga com o zoom no máximo. Ele é aquele cara comum que só vê sua própria vida, seu curso na faculdade, seu trabalho, sua família, sua igreja, seus probleminhas, seu partido político, seus sonhos, suas críticas, suas opiniões, etc. Esse é o cara padrão, e não adianta falar com ele sobre algo que está fora do zoom dele. O espectro de coisas que ele enxerga e reconhece é uma perspectiva muito pequena do TODO, e qualquer coisa fora dessa perspectiva vai soar como besteira pra ele. Imagine um quadro (pode ser a Monalisa pra facilitar pra você, seu Zé Burrão que não conhece arte), só que um quadro com 1 milhão de kilômetros quadrados. O cara comum, com o zoom no máximo, só enxerga alguns centímetros, uma parte MUITO pequena do quadro completo, mas ele acha que aquilo que ele enxerga é só o que há pra enxergar. Pouquíssimas pessoas, por algum motivo, conseguem diminuir esse zoom durante a vida e enxergar cada vez mais partes do cenário completo. Com isso, chegam em uma simples conclusão: "se antes eu enxergava X, e em determinado ponto da minha vida eu consegui chegar em 5X, provavelmente há uma quantidade praticamente infinita de X que eu ainda não consigo enxergar mas está lá em algum lugar". Quando você atinge essa forma de pensar (mesmo que subconscientemente), você atinge também uma humildade inigualável. Reconhecer que você é insignificante faz bem, traz tranquilidade com o tempo. Você passa a CAGAR E ANDAR pras coisas. Séries, lançamentos de cinema, roupas de marca, bandas, carros, celebridades, followers, likes, fofocas, tudo isso entra para o grupo de coisas que "tanto faz". Tudo se resume a "tanto faz". Obviamente isso vai causar um estranhamento nas pessoas e você eventualmente vai precisar fingir se importar com tais coisas. Mas isso traz mais benefício do que malefício no fim das contas.

Não há nada de errado em ser uma pessoa naturalmente com menos zoom (e que portanto compreende mais coisas do que a maioria). O problema é quando esse zoom está completamente quebrado e te leva pra lugar tão distante que o quadro de 1.000.000 km² vai ficando pequeno até se tornar um pontinho e desaparecer no meio do vazio. Se antes tirar o zoom te ajudava a ter uma perspectiva maior e mais sábia das coisas humanas, agora não há perspectiva mais. Tudo na convivência humana deixa de ser aceitável e passa a ser tão sem importância que qualquer coisa se torna extremamente desagradável e difícil. É um estado mental do qual não dá pra se desvencilhar. Não há como se distrair. Estar nesse estado é exaustivo em todos os sentidos. O problema de falar isso pra outras pessoas é que elas não estão enxergando a mesma coisa que você. Provavelmente ela vai falar "Não fique triste" ou "Por que você tá triste?", justamente porque "triste" é como o Zé Burrão resume qualquer sentimento que não é bom. Quando ele é rejeitado por alguma mulher e não consegue arrumar namorada, Zé Burrão fica triste. Quando ele tira notas baixas na faculdade, fica triste. Consegue compreender o que quero dizer? As pessoas normais ficam tristes por acontecimentos banais nas vidas delas, e acham que qualquer tipo de desconforto de qualquer outra pessoa tem a ver com isso também.

Vou falar algo bem pretensioso e arrogante agora. Esse post serve para os cagalhões que se dizem "depressivos" mas estão sempre reclamando de coisinhas mundanas como "não pego ninguém", "não tenho amigos", "não tenho dinheiro". Isso quando não é "ain porque o esquerdismo..." ou "ain gente esses funkeiros...". Vá a merda cara. Você não entende o que é sentir o VAZIO. Você está com o zoom no MÁXIMO, com a cara COLADA no gigantesco quadro dantesco que é a existência. Isso não te torna um pensador nem um filósofo, muito menos um cara interessante. Se sua pretensão é parecer descolado usando a "tristeza" como muleta, você está sendo um idiota. Se você apenas se acha um perdedor que não vê sentido na vida e acha que não tem nada de especial nem de ruim nisso, eu me arrisco a dizer que você está no caminho certo, mas, se você é como eu e de tempos em tempos tem uma crise fodida e isso te incapacita completamente, sinto muito. Somos um defeito na matrix e somos incapazes de viver nesta realidade. Psicólogos não adiantam pra gente como nós (talvez psiquiatras por causa dos remédios). Conversar com um psicólogo só resolve as tristezas mundanas do Zé Burrão (problema com os pais, problemas no emprego, problemas no relacionamento). Isso porque o psicólogo também é uma pessoa com o zoom no talo, talvez um pouco menos que a maioria, mas ainda sem enxergar nem 0,0001% do todo.

É isso aí caras. Esse fundo do poço geralmente dura uns 5 dias. Tomara que passe rápido. Isso aqui serve também pra quem está se (ou me) perguntando por que os podcasts não estão sendo feitos. Não me encham o saco porra. Quando eu estiver bem, eu gravo. Vão ouvir o Saco Cheio que é milhões de vezes melhor que o meu podcast.

4 comentários:

  1. Muito bom o texto, podia escrever mais vezes seu textos são foda.

    Escrever ou falar no podcst faz você se abrir e saber melhor o que você tá sentindo é como uma auto ajuda eu acho. Até o podcast.

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  2. Também acho que Psicólogos não entendem nada.

    Os verdadeiros psicólogos são os fudidos que estão na merda e reconhecem sua insignificância.

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  3. Cara, Kierkegaard falava da angústia, que é o sentimento puro da liberdade. O homem pode fazer o que quiser dentro da existência, e por ter medo do que suas escolhas podem acarretar, ele sente essa vertigem da liberdade. Toda vez que vai tomar qualquer decisão, vem a vertigem, esse sentimento horroroso. Imagine que um cara vai pular de um prédio. Ele sente dois medos: o primeiro é de cair, o segundo é o medo da possibilidade de escolha de pular ou não. O segundo medo leva ao que ele chama de "doença da morte".

    A solução pra Kierkegaard? Aceitar uma vida religiosa, se entregar a GRAÇA divina, e confiar plenamente na realidade, do jeito que é, sem questionar, sem esperar nada. Ele disse isso em 1830, com um fundo cristão forte.

    Eu acredito que é possível essa vida religiosa, mas sem apoio em qualquer mito metafísico. Basta ver a realidade, sem "gostar" nem "desgostar". Compreender que não existe "observador" e "objeto", que isso é só uma ideia, a ideia do "eu". Quando não existe mais o "eu", que observa, não existe mais espaço entre as coisas, nem divisão nenhuma. Assim é possível viver completamente livre de todos os conflitos.

    Foda-se. Por favor, continue sofrendo pra continuar escrevendo.

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  4. isso é processo iniciatico, eu sou assim tambem deslocade da matrix volta e meio to pensando em suicidio, problemas surgem de todos os lados, eu nao tenho solução para isso só sei oque é, ou aceitamos a nossa merda de vida e confiamos no suposto deus ou nos matamos logo.

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