Uma ejaculação masculina expele, geralmente, 300 milhões de espermatozóides. Apenas UMA ejaculação solta essa quantidade absurda.
Apenas UM (salvo raros casos) em 300 milhões de espermatozóides consegue fecundar o óvulo e gerar um ser humano.
Pare por um tempo e reflita sobre a imensidão desse número: TREZENTOS MILHÕES. É difícil mensurar um número tão colossal assim.
Os outros 299,999,999 de espermatozóides viraram só o resto de uma gozada, e nunca tiveram a chance de se desenvolver, criar um cérebro e um corpo. A ideia de ser esse espermatozóide que conseguiu chegar lá e se desenvolver já é ASSUSTADORA por si só. Mas calma que vai piorar muito.
Seu pai também foi vítima dessa coincidência absurda, dessa proporção de 1/300,000,000. Para seu avô nascer, mesma coisa. E assim por diante, desde o início da humanidade.
Pense em quantas milhares de gerações existiram na Terra.
Pense em quantas milhares de ejaculadas um homem dá durante sua vida, sendo que em cada uma ele solta 300 milhões de possíveis humanos.
Se, na metade do caminho, por alguma situação qualquer, algum ancestral teu decidisse se masturbar em vez de fazer sexo ou, mesmo que fizesse sexo, decidisse gozar fora só pra variar, você seria um dos 299,999,999 espermatozóides que morrem sem fecundar o óvulo.
Imagina. Ao menos TENTA imaginar quais eram as chances de você não existir hoje.
Em CADA UMA das MILHARES de ejaculações de CADA INDIVÍDUO dentre os MILHARES de ancestrais que você tem, existiu a chance de 99,99999999999999999999999999999999999999999999% de que a mera POSSIBILIDADE da sua existência fosse extirpada.
É como se, para que você exista hoje, um dado com 300 milhões de lados fosse jogado MILHARES DE VEZES SEGUIDAS, e em TODAS AS VEZES o dado tenha caído no MESMO NÚMERO.
E mesmo assim, você está aqui, lendo esse texto. Movendo seus olhos através de um sistema nervoso que você não faz ideia de como funciona.
Respirando.
Bombeando sangue.
Consumindo calorias. Se não comer nada, logo logo seu estômago estará roncando e doendo.
Você tá aqui sem saber qual o propósito disso tudo. Para que o espermatozóide que te originou existisse, uma reação no corpo do seu pai ocorreu. Antes disso, você descansava tranquilamente na não-existência. O dado da vida foi rolado milhares de vezes e suas chances de ser o escolhido eram residuais. Por alguma coincidência doentia, você foi literalmente EXPELIDO nesse mundo. Sem respostas, sem manuais, sem direcionamento.
Talvez você esteja totalmente dopado pela ilusão social e se preocupe com o fato de não ter uma namorada. Talvez você ache péssimo não ter amigos, afinal o normal é ter amigos. Talvez tu tenha a auto-estima fodida por não ter grana. Ou por ser burro. Ou por ser feio. Ou por ser muito baixo, ou muito alto, ou muito gordo, ou muito magro, ou por ser branco demais, ou por ser negro, ou por ter o cabelo assim ou assado.
Existe um abismo assustador na nossa frente. Por outro lado, existem maneiras de colocar um véu entre nossos olhos e o abismo. Esse véu - opaco - nos impede de enxergar o abismo e nos dá certa tranquilidade. Uma falsa e agoniante sensação de tranquilidade (paradoxal, não?)
Talvez você acredite que tudo isso foi arquitetado por outro indivíduo. Este, eterno e imaterial. Talvez isso te conforte. Essa é uma das formas mais comuns de escapismo.
Talvez você use drogas para sentir emoções agradáveis. Talvez você passe seu tempo jogando video-game. Talvez você passe seu tempo ouvindo música. Talvez você seja fascinado por algum esporte e, provavelmente, por um time pertencente à esse esporte.
Não importa qual seja a forma de escapismo. O fato é que nós precisamos forçar nossa concentração em algo para esquecer do infinito abismo que repousa logo a frente.
Essas ocupações são no mínimo ridículas. Se preocupar com qualquer coisa nesse mundo é uma tremenda insanidade. Veja bem, não tô aqui dizendo pra você parar com isso, afinal é assim que as coisas funcionam. Só que reconhecer sua insignificância perante o mundo pode te trazer uma paz REAL, além de uma humildade invejável.
Daqui a 100 anos, você estará morto. Mais alguns anos e você será completamente esquecido. Algum cara aleatório (vamos chamá-lo de Raúl), que viveu no seculo XIX, deveria se preocupar horrores em trabalhar, juntar dinheiro e ter uma vida confortável. Ter uma boa esposa, bons filhos e uma boa casa. Ele dedicou sua breve e confusa existência a um propósito, como por exemplo alguma religião. Em algum momento esse cara morreu, e algumas pessoas ficaram tristes com isso.
Mas a lenta marcha do tempo é incansável. Todas as outras pessoas ao redor de Raúl também morreram. E foram todas esquecidas. Hoje, olhando pra trás, pra vida do Raúl, eu tenho a noção exata de como será o futuro depois que eu partir. Parece que quase ninguém tem a capacidade ou a coragem de fazer esse exercício. Todas estão preocupadas demais com suas viagens, roupas, redes sociais, smartphones, embates políticos, romances, surubas, fofocas.
Algumas pessoas, ao ler esse texto, vão ficar horrorizadas ou simplesmente me considerar um idiota que tá falando besteira.
Mas as pessoas que entenderam; as pessoas que são o motivo de eu ter criado esse blog (em vez de simplesmente escrever em um diário), estão nesse momento em paz.
Se forem pensadas com calma e racionalidade, essas ideias me trazem uma paz e um conforto que eu não encontrei em nenhuma outra coisa nessa existência. É um caminho perigoso, pois caso seu ego influencie nesse pensamento, o resultado será desastroso. É imprescindível aqui a MORTE DO EGO. De duas, uma: ou você se afunda mais nos escapismos e tenta fugir desesperadamente da realidade, ou encara de uma vez só o abismo e acaba caindo nele, se afundando numa baita depressão.
No meio disso, tem um caminhozinho estreito, que pouquíssimos indivíduos percorreram ao longo da história da humanidade, que é o caminho da paz e da aceitação. Sem escapismos. Sem besteiras. Sem futilidades.
Sente na beira do abismo e observe-o. Não encare; observe. A paz está te esperando.
Tudo é aleatório, se for parar pra pensar, se eu não tivesse feito exatamente as mesmas coisas que me fez ser alguma coisa que sou hoje (Ter nascido em tal ano, crescido em tal escola, aprender tais coisas, ter experiencias boas e ruins, etc.) , eu não estaria lendo esse blog, ou teria uma vida diferente (Estaria casado, ou tivesse uma cria que gerasse mais momentos aleatórios). O aleatório de tudo é assustador, e quando vamos regredindo a lógica além de nós, chegamos num universo, bilhões de anos de aleatoriedade pra chegar nisso que estamos.
ResponderExcluirVemos o quanto somos nada e nunca seremos, e isso não é ruim, chega a ser uma epifania caso o ego esteja morto.
Bom texto cara, parabéns pela iniciativa, Tirou as palavras do âmago e pôs num puta texto.
Boa, Velhote, continuarei acompanhando.
ResponderExcluirEu as vezes tenho certas recaídas de querer dar um basta nesta coisa sem sentido que é a minha existência, mas é so ler o que voce escreve e diz que eu consigo ver e achar apenas graça de tudo e saber que no final tudo vai dar em merda mesmo. Continue com o que voce faz, sempre me ajudou muito.
ResponderExcluirMorte do ego? Então por que fica se sentindo superior aos tetinhas, caralho?
ResponderExcluirNão fico "me sentindo superior".
ExcluirJustamente por ter uma visão objetiva do mundo, minimizando a influência do ego (matá-lo é algo praticamente inatingível), é que eu sei que eu SOU superior aos "tetinhas". Alguém que teoricamente não sofre influências do ego ainda consegue tirar conclusões lógicas, certo?
Eu te entendo perfeitamente Tiago, eu te entendo...
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